Jogo: Breath of Fire
Sistema: Super Nintendo
Jogabilidade: JRPG
Desenvolvedora: Capcom
Lançamento: 04/03/93
Idioma:
Tempo de gameplay: 27~30 horas
Se há uma coisa pela qual a Capcom é conhecida, são suas inúmeras franquias, e acima de tudo, franquias que se destacaram ao ponto de estarem ligadas como referências no estilo de jogo. Algumas como Ghosts 'n Goblins e Mega Man, praticamente definiram o gênero de jogos de plataforma, e disso veio inúmeras entradas, spin-offs e remakes dedicados a esse estilo de jogo, tanto lançado pela Capcom como por outros copiados por outras empresas. No entanto, há uma franquia da empresa que não é tão conhecida nos dias de hoje pelos jogadores de pouca idade, principalmente da geração Z, dos nascidos a partir do ano 2000, e essa é a série de RPG Breath of Fire. Quando lançado em 1994, não sustentava as qualidades gráficas de outros jogos do mesmo período, como Final Fantasy VI, Phantasy Star IV, Xak III e Lunar: Eternal Blue. Porém eu sempre gostei de cada lançamento da série pela Capcom.
Gostaria de esclarecer que em muitas fontes pela internet, é citado, inclusive nas próprias palavras da Capcom, que este foi seu primeiro RPG. Uma afirmação de veracidade duvidosa, pois se retrocedermos um pouco até o ano de 1989, encontramos no NES um jogo chamado Willow, que tinha muitos elementos de RPG de ação, e acima de tudo, Destiny of an Emperor, que era um JRPG puro e simples. Pode-se dizer, com toda certeza, sim, que foi seu primeiro RPG na era 16 bits e que tinha uma mecânica e uma parte técnica que se repetiria futuramente nos próximos jogos da série. E já sabemos como a Capcom o tratou em sua época mais gloriosa. Foi uma aventura arriscada, já que seus programadores quase não tinham experiência na criação de jogos de RPG, mas não só se deu bem, como colheu uma boa recepção, tanto dos jogadores quanto da imprensa, e a prova visível é o aparecimento, ao longo dos anos, de até cinco sequências (a última para os malditos celulares, totalmente condenáveis), bastante apreciadas pelos jogadores de todos ou mundo. E não é surpresa nenhuma, porque este primeiro jogo da série, deixou uma marca permanente em todos aqueles que se aventuraram nele, apesar de sua abordagem básica e de não ter realmente grandes surpresas técnicas.
Simplesmente foi um jogo desenvolvido com muita qualidade e atenção, cuidando muito bem de todos os seus aspectos, quase sem nenhum elemento que os fãs podessem se queixar. E com isso, soube conquistar os jogadores do gênero, acima de tudo por uma qualidade: sua simplicidade, que é realmente onde está os grandes méritos do RPG que leva “sopro de fogo” no título, ou como chamávamos em uma saudosa comunidade no Orkut, o bafo de fogo.
A história é o exemplo perfeito. Na introdução, com um fundo estranhamente poético, contam-se os acontecimentos de uma antiga guerra, há centenas de anos, provocada por uma deusa cruel que só se movia pelo seu desejo de satisfação, e que conseguiu dividir o grande clã dos dragões oferecendo grande poder ao lado que fosse vitorioso, tudo para cumprir um único desejo seu de ganância, e com isso ocorreu uma grande guerra. Finalmente, o bem triunfou, o clã dos dragões da luz, através de um bravo guerreiro, conseguiu aprisionar a deusa Tyr atrás de um selo mágico protegido por seis chaves. No entanto, os dragões das trevas continuaram sua perseguição aos da luz, cuja existência foi dizimada e quase extinta. A história se repete. Motivado por sua tremenda ganância, o imperador do clã dos dragões das trevas persegue, anos depois, um objetivo ainda maior: a dominação do mundo. Sua loucura imperialista o cega a tal ponto que ele pretende usar o imenso poder da deusa, tentando libertá-la de seu cativeiro. E é aqui que Ryu entra em ação, sendo um dos últimos descendentes reais do clã do dragão da luz. Em relação ao enredo, e apesar de ser um grande inimigo dos spin-offs, eu não me recusaria a jogar um jogo da série em que se contasse a primeira batalha entre os dois clãs, e pessoalmente, um em que a estranha viagem de Nina, se prolongasse em mostrar todos os seus eventos.
Como eu disse, a simplicidade é um dos maiores pontos fortes do jogo. No entanto, desde o primeiro momento eles alimentam o sentido visual e também nossa imaginação com seus sprites, que às vezes é muito animada, cheia de tons muito atraentes. Em geral, a variedade nesse sentido é muito grata aos olhos. Seu acabamento é limpo e delineado, destacando-se bem contra belos cenários que mudam em batalha, dependendo do terreno. Um dos detalhes que identificam o jogo, é a de sua perspectiva isométrica, uma marca registrada de toda a saga, exceto no quinto capítulo. Os sprites dos principais inimigos passam de miniaturas a verdadeiras feras com um desenho excelente e cuidadoso. Os nevoeiros e outros fenômenos de clima e da natureza, fizeram uso de um chip gráfico exclusivo do Super Nintendo, o Mode 7, na forma de rotações ou ondulações do ambiente, ou um efeito de pixelização surpreendente em determinado inimigo avançado. A mudança entre dia e noite em tempo real, afeta absolutamente todos os ambientes que visitamos, desde as cidades (com as luzes de suas casas acesas e o escurecimento em sua paleta de cores) até os campos de batalha, mas me apaixonei especialmente pela visão de algumas das florestas, que como em campo aberto, revelam grandes detalhes que não são apreciados à luz do dia. Nuances como sombras fantásticas ou mudanças na aparência da água, também são perceptíveis graça a esse modo gráfico. Como eu disse, esses tipos de mudanças e detalhes são muito marcantes, embora não exclusivo da série. Em Dragon Quest III, para o Nes 8 bits, um jogo de 1988, 6 anos antes, já nos presenteava com tal efeito. Uma pena que eles não foram acompanhados por sons exclusivos da vida noturna ou mudando a trilha sonora, porque teria sido ainda mais sensacional.
Poderíamos dizer que Breath of Fire, ao invés de um conjunto luxuoso de sua OST, poderia ser melhor estudado por cortes individuais, já que talvez englobar toda a trilha sonora como um único elemento não faça justiça. Assim como seus gráficos, as melodias que compõem a partitura do jogo podem ser descritas como suaves e envoltas a uma certa doçura. Com uma infinidade de instrumentos diferentes e bastante originalidade, criaram-se canções que despertam o interesse mesmo de quem não jogou o RPG. Se por trás do design dos personagens temos Keiji Inafune (pai de Megaman), a empresa colocou em Breath of Fire, para trabalhar na trilha sonora, um grande time de músicos de destaque. Para se ter uma ideia, nas cidades a mesma música não se repete. Há um total de 45 composições em todo o jogo.
Com seus prós e contras, Breath of Fire oferece mais do que aparenta. A princípio, as masmorras são simples e a frequência de combate bastante razoável, sem torturar excessivamente o jogador. As missões também podem parecer um pouco fáceis nos primeiros momentos, mas aos poucos o equilíbrio começa a aparecer na dificuldade do jogo. Há alguns minigames, como caçar feras no mapa ou pescar tesouros em determinados pontos, sempre tentando manter um nível de experiência do jogador mais confortável, alheio à história um pouco pesada. Tais meios foram bastante apreciados pelos jogadores, e principalmente a pesca, continuou aparecendo nos futuros jogos.
Na questão de apresentar algo mais único, o primeiro jogo nos apresenta uma opção de transformações. Embora algum membro já possua habilidades mágicas, o protagonista aprenderá através da investigação a usar a principal arma do clã dos dragões da luz, esquecida anos atrás, que nada mais é do que se transformar em diferentes tipos de dragões. Karn também pode realizar transformações, fundindo vários personagens da equipe, e dando à Breath of Fire alguns personagens com técnicas únicas. Talvez seja o jogo da série em que o protagonista Ryu seja mais nivelado, em termos de força, com os seus companheiros. Nisso também destacamos as habilidades pessoais. Se Bo é capaz de atravessar as árvores, Ox derrubará paredes grossas e Mogu cavará buracos em pontos específicos. Habilidades que são essenciais para progredir na história e que trazem muita profundidade e variedade ao conjunto final, possivelmente o principal valor agregado diferenciador de outros jogos.
O jogo tem uma extensão que abrange quase 30 horas para um jogador principiante, e a progressão do nível de dificuldade é excelente. Restaurar a paz em Breath of Fire, é trazer alívio e paz para terras atormentadas pela guerra, e afligidos por uma herança de uma Deusa cruel, que agora residem em um Imperador maléfico e louco. Se você é um aventureiro experiente neste gênero, é difícil que Breath of Fire vai te surpreender como um jogo único. No entanto, os personagens Ryu e Nina marcarão seus nomes na história do jogo, e eles estão conectados por todos os 4 primeiros jogos.
Se quiserem saber mais da ligação dos quatro jogos que se completam em uma única história, deixo o link do tópico especial da série aqui no fórum:
https://rpgplayers.forumeiros.com/t753-serie-breath-of-fire
Notas:
História: 9/10
Gráficos: 8/10
Som: 8/10
Sistema de Batalha: 9/10
Dificuldade: 8,5/10
Total: 8,5
